Labirinto Sagrado


 













Visto há milhares de anos como um símbolo de cunho religioso e esotérico, ainda hoje o desenho básico do labirinto continua sendo utilizado em diversas construções como um caminho para o conhecimento.

Por Helena Gerenstadt

Símbolo de proteção, caminho de iniciação, entrada para o mundo espiritual, o labirinto sempre teve múltiplos usos por parte das mais variadas culturas. O estudo dessa figura através da geometria sagrada permitiu descobrir a energia que o desenho guarda em seu interior. São muitas as pessoas que criam seus próprios labirintos para percorrê-los e receber essa energia positiva em sua vida cotidiana.

Podemos encontrar labirintos nas rochas do México e da Itália, em mantas e cestos dos povos primitivos norte-americanos, nas pedras do deserto da Líbia, em mosaicos na Escandinávia e Índia, nos solos das igrejas européias.

Os labirintos se converteram em figuras universais, utilizadas por numerosas culturas com diferentes propósitos, sempre adaptados às necessidades de cada comunidade, mas com uma estrutura similar.

Diferente dos labirintos comuns – que têm caminhos sem saídas e muitas ramificações –, o labirinto da meditação consiste em um único caminho, desde a entrada até o centro.

Sua origem é incerta, mas alguns estudiosos a situam na Grécia, na Idade do Bronze, porque dessa região procede a famosa lenda do labirinto do Minotauro, e porque ali foram encontradas moedas do século 3 a.C., cunhadas com desenhos de labirintos.

A utilização dessa figura por parte de culturas tão distantes e diferentes, como as da Grã-Bretanha, Peru, Sumatra ou Creta, desperta o interesse de antropólogos e arqueólogos que tentam averiguar o significado que nossos antepassados atribuíam ao símbolo labiríntico.

Sabe-se que a maioria das civilizações considerava o labirinto como o núcleo ou centro sagrado, o que os gregos chamavam de omphalos.

Para os indígenas norte-americanos do Arizona, os pimas, o labirinto representava o caminho que conduz ao alto de sua montanha sagrada. Por essa razão adornavam os cestos e os utensílios cotidianos com ele. Para os zulus, da África do Sul, o labirinto desenhado em volta de suas cabanas representava proteção. Para os escandinavos, as almas dos antepassados habitam os labirintos de pedras, que os impedem de escapar e de interferir na existência dos vivos.

Na Europa, a lenda do labirinto da ilha de Creta, na Grécia, foi descoberta no século 20, reproduzida nas colunas do antigo Palácio de Cnossos – construído entre 1700 e 1400 a.C. –, e influenciou definitivamente a concepção mágica e religiosa do labirinto.

Na Idade Média, o símbolo da cruz foi incorporado ao labirinto, e muitas das principais igrejas européias gravaram caminhos de características labirínticas, como na Catedral de Chartres, na França. O centro significava Jerusalém, a cidade mais sagrada das Cruzadas. Os fiéis os percorriam como caminhos de penitência, descalços ou de joelhos, e oravam.

É possível encontrar esse tipo de imagem nos parques públicos, jardins, escolas, hospitais e igrejas em vários locais do mundo. Na Catedral da Graça, em São Francisco, Estados Unidos, que foi erguida em 1849, existem dois labirintos: um ao ar livre, construído em pedra e aberto ao público, e outro, no interior da catedral. Ambos possuem as mesmas características da Catedral de Chartres.

Atualmente, muitos grupos utilizam o labirinto como caminho de meditação, para o autoconhecimento, pois se trata de uma ferramenta de fortalecimento grupal, uma prática de cura e um catalisador para a construção do processo de paz interior.

Durante todo o trajeto o “peregrino” deve manter um estado de meditação permeável para a conexão com seu “eu interior”. O único requisito imprescindível é libertar a mente de todos os pensamentos cotidianos, para tentar melhorar sua vida graças à experiência do trajeto. O importante é saber que o peregrino chegará ao centro sem dificuldade, o que propiciará à mente o relaxamento necessário para confiar em seus próprios passos. Essa meditação é uma forma de refletir sobre sua existência pessoal e sua relação com o mundo e o cosmo.

O labirinto é uma fonte de energia que pode colaborar com o “fluxo energético” daquele que medita ao longo do caminho. É uma figura da geometria sagrada que concentra um tipo de energia perceptível. O círculo foi considerado a representação da totalidade; a espiral, uma imagem de transformação e crescimento; e o labirinto, um caminho de meditação.

Aristóteles sustentava que a alma humana pensa em termos de imagens, e a geometria sagrada compartilha esse conceito. Segundo esse ponto de vista, precisamos entender que o universo está constituído por uma energia em contínuo estado de transformação.

Curiosidades

  • Um labirinto protegia o famoso tesouro do rei Salomão dos aventureiros.
  • O formato labiríntico era também o caminho percorrido pelos profanadores das tumbas egípcias.
  • O labirinto mais conhecido é o do Minotauro, situado na Ilha de Creta. É daí que se origina o termo. Conta-se que, debaixo do palácio do rei, havia um recinto conhecido como Laberinto. Em seu interior, habitava um monstro chamado Minotauro, metade humano e metade touro, ao qual, a cada nove anos, se oferecia um sacrifício de sete homens e sete donzelas, para que ele os devorasse. Farto desta situação, o rei Minos aceitou a oferta do jovem príncipe de Atenas, Teseu, de entrar no labirinto para matar a besta. Graças ao novelo de lã que lhe foi entregue pela filha do rei, Ariadne, ele pôde matar o Minotauro e regressar, seguindo o fio que havia desenrolado ao entrar.

Labirinto - Mitologia

O labirinto com apenas uma entrada e concebido como uma série de caminhos entrecruzados, a maior parte dos quais levam a becos sem saída e uma passagem que leva a um destino que é o centro do labirinto, é um símbolo encontrado em azulejos, moedas, túmulos e templos sagrados da Antiguidade. A palavra labirinto deriva de labrys , o "machado duplo" sagrado de Creta, usado no ritual sagrado de morte do touro, e significa "Casa do Machado Duplo". A origem da palavra está relacionada com o labirinto de Creta, uma representação do mundo do Além, guardado pelo Minotauro que era necessário dominar para atingir o final do percurso, um provável ritual de morte e renascimento.

Segundo a tradição pagã, o labirinto era uma espécie de percurso iniciático de que encontramos reminiscências em alguns jogos de infância. Representado no chão de muitas igrejas medievais, o labirinto era uma simbologia da peregrinação cristã à Terra Santa e também um símbolo das confrarias iniciáticas de pedreiros. Tanto na tradição cristã como pagã, o labirinto simbolizava também o mundo subterrâneo, o lugar dos mortos ou o inferno. Um outro significado inerente era o de defesa e protecção de um tesouro material ou espiritual, como uma fortaleza, que só era possível ser encontrado por alguns eleitos ou iniciados, correspondendo o percurso a uma espécie de prova que era necessário ultrapassar com êxito. O labirinto de Dédalo e Ícaro representa o trabalho intelectual e o engenho mecânico do aprendiz que tanto pode ser dominado pela ambição desmedida como o trabalho perseverante e humilde em prol de um objectivo a atingir.

Na tradição da Cabala judaica, o labirinto é associado a Salomão e tem uma função mágica ligado ao percurso para atingir a Grande Obra. Por outro lado, o labirinto é uma representação do ser interior e do conhecimento esotérico, nos caminhos da renovação mística e da ressurreição espiritual. Este significado de transformação do eu e de evolução pessoal, em que o espírito vence a matéria, poderá também estar na base do labirinto desenhado por Leonardo da Vinci, em que o movimento espiral que conduz ao infinito representa tanto a renovação cíclica como o caminho sem fim e intemporal.